Começa o infinito com dois zeros
Protótipo do filho, feito o feto
O embrião come na manjedoura
A gestação no ventre reza uma novena
A alma agarra a carne sedutora
O corpo, cromossomos, gens, DNA
Carrega a mãe o embrulho
No colo um véu
Dá luz à treva e o escuro
Brilho do céu
Na infância indaga: Ó, triste jardineira
Por que a camélia deu suspiros tão mortais?
Beijar na tela a estrela de cinema
No pierrot, a mesma máscara negra do carnaval
Hoje a noite tem luar
E o sol de novo há de brilhar
Na linha do horizonte
Vai passar o tempo
Vou pra longe procurar
Vou para Pasárgada
Vou me vingar
Eu vou matar o tempo
E ser imortal
Atravessa labirintos e desertos
Mil gols do eterno Mito Rei Pelé
Na escola aprende a não dar bandeira
Mas até hoje não entende o que é um mol
Fez faculdade pra seguir carreira
Mas sonha mesmo em viver do futebol
Bastaram dois sorrisos e um olhar
Foram mais felizes sendo um par
Morreu o pai porque nasceu primeiro
Renasce agora como avô, seu filho é pai
Hoje a noite tem luar
E o sol de novo há de brilhar
Na linha do horizonte
Vai passar o tempo
Vou pra longe procurar
Vou para Pasárgada
Vou me vingar
Eu vou matar o tempo
E ser imortal
Escreve no epílogo seus tristes versos
Encerra o seu livro controverso
A gente morre, a vida é passageira
Escorre lenta, vai minguando e aqui jaz
Pra uns demora, mas a hora chega
E esse encontro ninguém pode evitar