Hoje eu não tô aqui para falar do que eu sou
Apenas cheguei pra explicar de tudo que eu vivo
2 loucos perturbados tudo dentro duma casa
No meio disso a injustiça sempre a andar comigo
Eu dobrei o joelho pedindo mais bênção à Deus
Meu Deus me perdoa se nesse mar eu pescar vivo
É que eu já não sei mais no que eu devo acreditar
Todo louvor que me foi dado eu desacredito
Nos dias que devia ter chuva só havia Sol
Agora ando perturbado pela minha cabeça
E ela nunca vai passar com paracetamol
Só vai passar apenas com novas promessas
E eu não vim aqui para falar de mim mas se puder eu vou falar sobre mim e também daquela criança
Que ficava todo o dia descansando bem deitado muito calmo mas no fim nunca levantava
E quando as pessoas chegavam, algumas até perguntavam sem saber mas a consciência é que lhes pesava
Chegou o tempo de eu puder vos contar uma história
Sejam bem-vindos a história da minha casa
Era uma vez em África um país da merda
Província luanda o município é cazenga
Uma mãe feliz com o marido mais os seus filhos
O grande problema é que ela era uma analfabeta
Toda vez que ela falava era desrespeitada
As tias mais experientes lhe faziam de brinquedo
Se alguma vez eu vi alguém a perecer
Foi a minha avó por falta de conhecimento
Além desse ela tinha 2 pesos a carregar
Um filho perturbado e o outro não andava
Quando essa criança parecia estar doente
Não falava, o coitadinho só gritava
Não andava o coitadinho só parava
Não brilhava o coitadinho só apagava
Durante o banho era muito cuidado
Quando eu lhe dava de comer quase que se engasgava
Meu primeiro tio se perdeu na frustração
Tudo aquilo que vivemos só se foi agora
Com 9anos meu Deus foi a primeira vez
Que vi alguém inconsciente por causa da droga
Meu segundo tio se perdeu na frustração
Tudo aquilo que vivemos só se foi agora
Foi tão triste para a minha família
Por ter se repetido a mesma história
Não foi diferente pra mim eu fiz a mesma coisa
A forma de esconder a dor era esse caminho
A primeira vez que eu enrolei a erva no papel
Foi por eu ter me sentido sozinho
E o pai que eu tenho na minha vida não é um bom exemplo
Quando era conversa o caralho não conversava
A lembrança mais forte na vida que eu tenho
Pé dele no meu pescoço na boca eu sangrava
Não vou vitimizar eu já tive o melhor
Sempre de Nike e dólar desde criança
2021 pela primeira vez meu pai me mandou ter com alguém na embaixada americana
Vocês é que são os religiosos, nós aqui os crentes
Dizem ser humildes, humilde não usa iPhone
Vocês os religiosos, nós aqui os crentes
Vocês comem do melhor e nós passamos fome
Vocês é que são os religiosos, nós aqui os crentes
Vocês no conforto a dor nos consome
Nos dias cheio de Sol
Bem dentro do sábado eu já sabia que havia de ocupar a minha mão
Com a mão esquerda eu lhe tirava a mosca da boca
Enquanto eu lhe abanava com a outra mão
Até o momento ela já tinha perdido a mãe
Pensamentos das famílias era o multicaixa
Minha avó com lágrimas nos olhos se pós a pensar
Meu Deus o quê que eu vou fazer com essas crianças?
Como homem meu avô teve que tomar a decisão
Juro éramos mais de 12 dentro da mesma casa
Quando faltava pão sobrava para o meu avô
O matabicho era o que a gente jantava
Do outro lado a família que tem a maioria
Nos davam os 100 e tal e os 300 eles esbanjavam
Do outro lado a família que tem a maioria
Com a criança deficiente nem se importavam
Do outro lado a família que tem a maioria
Por ser direito dele ainda lhe humilhavam
Do outro lado a família que tem a maioria
Só pensavam no dinheiro
Depois da morte da minha avó diziam ajudar
Só que a puta dessa ajuda a gente nunca via
Quando faltava fralda e também a medicação
Era a minha avó ou tia quem supria
Agora que ele morreu temos a conclusão
Que a maior ajuda não veio do multicaixa
Quando faltava fralda eu tirava do meu dinheiro
Maior ajuda veio de quem não trabalhava
E quando havia festa em casa eu lhe metia no meu colo
Entre qualquer visita eu sempre dançava com ele
Muitos me davam de louco mas no final havia um sorriso
Quando descobriam que eu é que cuidava dele
E quando havia festa em casa eu lhe metia no meu colo
Entre qualquer visita eu sempre dançava com ele
Muitos me davam de louco por eu beijar e abraçar
Sem ter vergonha de alguém deficiente