Ainda mal o Sol nascera
Já a multidão descera à praça principal
Era o grande ajuste de contas
E as pessoas estavam prontas a acabar de vez com o mal
Tinham sido anos a fio
A lutar com a fome e com o frio
Ao som de promessas de pão e de conforto
E agora o povo queria o poder
Já não tinha mais nada a perder
Quando um homem tem vida de cão
Mais lhe vale ser morto
O sangue correu pelo chão
Em nome da revolução e o povo acabou por vencer
Celebrou-se a liberdade
A igualdade e a fraternidade que acabavam de nascer
Mas ao chegar a vez de cada um
Trabalhar para o bem comum
Aí começaram os dissabores
E em vez de ficarem unidos
Dividiram-se em mil partidos
Lá no fundo, todos queriam ser
Ditadores
E as crianças pareciam feias
No meio de tanta gente velha
Eu ouvi alguém gritar
Meu Deus, estou todo picado pelas abelhas!
Picado pelas abelhas
Picado pelas abelhas
E agora um traficante com ar obsceno
Vai vendendo o seu veneno a quem trouxer o dinheiro na mão
E o consumidor diz baixinho que tem falta de carinho
Ao ser arrastado para a prisão
E um vagabundo cheio de aguardente
Diz que o desejo há-de estar presente
Até ao fim da cerimônia
Enquanto um poeta com ar cansado
Diz: Antes só que mal acompanhado!
E arranca para mais
Uma noite de insônia
E as crianças parecem velhas
No meio de tanta gente feia
Eu continuo a ouvir gritar
Meu Deus, estou todo picado pelas abelhas!
Picado pelas abelhas
Picado pelas abelhas