A de oito baixos roncava e o candeeiro estremecia
Nem o tinhoso sabia do beleléu que se armava
A cordeona resmungava e parou de supetão
Quando levei um carão da china que negaceava
Virgi!
Levantou cinza com poeira quando cortei a cordeona
Bem pelo meio, a chorona, ao correr da carneadeira
Parou de repente a zoeira, ficou só o ar fumacento
E o meu arrependimento pra durar a vida inteira
Cortar uma gaita em duas só por capricho! Um pecado!
O velho órgão sagrado das nossas missas charruas
Quantas pragas de xiruas com desaforos malucos
E relampear de trabucos, tinir de adagas e puas
Pra descrever o brinquedo, isso não é bem assim
No bárbaro retintindo onde não vale segredo
Ali o índio que tem medo nem que não queira se entangue
Sentindo cheiro de sangue e o choro do chinaredo
O que não viu ficou vendo o resultado do talho
Como quem corta um baralho num jogo em que está perdendo
Foi como um chiado fervendo num olheiro de formiga
Quem não tem nada com a briga peleia se defendendo
O gaiteiro atrás do banco, benzido a moda gaúcha
Contra bala de garrucha e folha de ferro branco
Num medonho solavanco, perdeu o pé a bugra Raimunda
Larguei um pardo cacunda e outro meio lonanco
Senti na testa um chispaço que pegou de refilão
Um estouro de facão quase me troncheia um braço
Mas alarguei meu espaço, dei costas contra a parede
Um pardo veio com sede, lo desguampeei de um planaço
Depois de tudo acabado, isso foi lá pelas tantas
Lombos cortados, gargantas e bugre descadeirado
Sangue fresco misturado com gordura de candeeiro
Mas saiu limpo o gaiteiro. O tocador é sagrado
Quando veio o comissário, pra resolver os assuntos
Pra encomendar os defuntos veio também o vigário
Ainda hoje o vizindário, quando lembra se arrepia
Nunca mais desde esse dia festejei aniversário
E a china?
Não sei da china, por onde foi nem donde veio
Lambe sal nalgum rodeio da pampa continentina
Cortando talvez a clina nas minguantes de setembro
Por castigo ainda me lembro daquela maula brasina!