Há sempre um piano
Um piano selvagem
Que nos gela o coração
E nos trás a imagem
Daquele inverno
Naquele inferno
Há sempre a lembrança
De um olhar a sangrar
De um soldado perdido
Em terras do ultramar
Por obrigação
Aquela missão
Combater na selva sem saber porquê
E sentir o inferno de matar alguém
E quem regressou
Guarda a sensação
Que lutou numa guerra sem razão
Sem razão, sem razão
Há sempre a palavra
A palavra nação
Que os chefes trazem e usam
Pra esconder a razão
Da sua vontade
Daquela verdade
E para eles aquele inverno
Será sempre o mesmo inferno
Que ninguém poderá esquecer
Ter que matar ou morrer
Ao sabor do vento
Naquele tormento
Perguntei ao céu: Será sempre assim?
Poderá o inverno nunca ter um fim?
Não sei responder
Só talvez lembrar
O que alguém que voltou veio contar, recordar
Recordar
Aquele inverno