Olha o tempo passando atrás das primeiras árvores
Olha o tempo saltando na selva, no matagal
Acima dos telhados das primeiras paisagens, no antes
No início
No breu
E logo adiante uma planta chorona despenca seus cachos de celulose
E música entre a neblina
Fumaça divina de luz e sombra
No começo
No oco dos primeiros dias
E antes que a floresta termine
Eis que surge uma árvore gigante
Generosa
Frondosa
Uma entidade na beira do vale
Entre o chão e a névoa
Entre o cercado e os flocos etéreos de vapor, no meio
No vão
No branco
No claro, na passagem, na ponte de ar que anuncia a grande terra
Olha o tempo passando depois das últimas folhas
Olha o tempo saltando nas curvas dos montes
Acima dos pelos das derradeiras paisagens, no depois
No final
Na luz
E mais adiante ainda
Uma nuvem brincalhona cria pássaros de algodão e poesia
Entre o azul
Miragem divina de sopro e verbo
No espaço
No vasto dos últimos dias
E antes que a vida desapareça
Surge uma semente invisível
Uma estrela cadente
Um pingo
Que nas voltas do mundo
Cai sobre o barro
Sobre o barro do chão