Um homem de fato e chapéu
Dentro da fotografia
Diz adeus, acena aos seus
Alguém lhe disse: Sorria
Houve alguém que abandonou
O distinto retratado
Em papel que desbotou
Num caixilho enferrujado
Um vulto pendurado
Em caixilho de latão
Por sentença condenado
A algum caixote de cartão
Quem é que algum dia se esqueceu
Quem é que nunca mais se lembrou
Do homem de chapéu
Dentro da fotografia?
A folha à sorte de um jornal
Com dizeres que já não prestam
É mortalha sepulcral
Dos detritos que ainda restam
As palavras mortas
Duma pagina qualquer
Indagavam sobre o paradeiro
De uma mulher
Quem é que algum dia se esqueceu
Quem é que nunca mais se lembrou
Da mulher que se escondeu
Numa folha de jornal?
Em Mortalha de jornal
Jaz uma fotografia
Ainda bem que bem ou mal
Alguém lhes disse: Sorria
O homem de fato e chapéu
Sorri pra fotografia
E a mulher lá encontrou
Quem lhe faça companhia
Quem é que há de um dia se esquecer
Quem é que há de um dia perguntar
Quem era este aqui
Na minha fotografia?