Eu tenho um sonho barbaresco e sedutor
Que na vida de cantador, vou dar jeito em realizar
Que é te encontrar no poeirão do chão batido
Dançar vanera contigo, até o candeeiro se apagar
Ontonte o Buja falou, correndo touro
Que peão dorme num couro e prenda dorme em cambraia
Eu sigo o passo de peão e cantador
Que a marcação do cantor é o sarandeio da saia
Já me disseram que no baile do Nezico
Onde o mundo é mais bonito e a manhã nunca clareia
Quem não se apeia pra bailar uma vanera
Ou é torto das cadera, ou é surdo das oreias
O baile antigo, tem pouco, mas não se acaba
Já toquei no Catuçaba e amanhã vou pro Suspiro
Tive notícia que tu bailas no Sodré
E às vezes larga de a pé, pra dançar lá no Retiro
Se me tocou ser homem dos arreios
Fazer corda com floreio, puxar arame em moerão
Tenho as mão grossa, pra ser fino na guitarra
Mas pra vanera e chamarra vem sobrando a inspiração
Ah! Se eu te encontro! Num salão de chão batido
Vou cantar no teu ouvido, vou arrodear na tua cintura
Vou te contar que te escrevi uma vanera
Fiz em cima da estriveira, sem papel, sem partitura